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O PÃO DA MULTIDÃO E A VOZ DA IGREJA

Muitas vezes ouvem-se críticas à ação social da Igreja e, muito mais, às sua declarações sobre a política econômica. Julga-se que a Igreja não deve tocar em assuntos “temporais”, mas ocupar-se com o “espiritual”. Mas a violência, a impunidade, a falta de saúde e educação, a fome de grande parte da população não dizem respeito ao Reino de Deus que Jesus veio anunciar e inaugurar e que a Igreja tem como missão atualizar?
            O evangelho de Marcos descreve a chegada de Jesus diante da multidão: compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar, com a conseqüência que, no fim do dia, teve de alimentar a multidão. (cf. Mc 6,30-34)
            O evangelho de João descreve esse gesto de Jesus de maneira mais elaborada, dentro do contexto do “sermão do Pão da vida”. (cf. Jo 6,1-15)
            A maneira em que João apresenta a multiplicação dos pães salienta que Jesus não agiu surpreendido pelas circunstâncias (a hora avançada), mas porque ele quis apresentar pão ao povo (Jo 6,5-6) — para depois mostrar qual é o verdadeiro “pão”. Em Mc Jesus manda os discípulos distribuir o pão (exemplo para a Igreja). João diz que Jesus mesmo o distribui, para acentuar que o pão é o dom de Jesus. E no fim, o povo quer proclamar Jesus rei (messias), mas Jesus se retira, sozinho, para a montanha (Jo 6,14-15).
            Esse gesto de Jesus é muito significativo. Jesus não veio propriamente para distribuir cestas básicas e ser eleito prefeito, para resolver os problemas materiais do povo. Isso é apenas “sinal” que acompanha sua missão. Para resolver os problemas materiais do povo há meios à disposição, desde que as pessoas ajam com responsabilidade e justiça. Mas para que isso aconteça, é preciso algo mais fundamental: que conheçam o Deus de amor e justiça que se revela em Jesus.
            A preocupação social da Igreja deve pautar-se por essa linha. Para resolver os problemas econômicos e sociais não é preciso vir o Filho de Deus ao mundo. Os meios estão aí. O Brasil rico; é só ter pessoas justas, sensíveis às necessidades do povo, para bem gerenciar essa riqueza . A missão da Igreja é em primeiro lugar colocar os responsáveis diante da vontade de Deus assim como Jesus fez. E criar uma comunidade em que as pessoas vivam como Jesus ensinou.
            Isso não significa pregar ingenuamente a “boa vontade”, sem fazer nada que obrigue as pessoas a pô-la em prática. Somos todos filhos de Adão, portadores de pecado desde a origem. A boa vontde de usar bem os meios econômicos segundo a justiça social precisa de leis que funcionem, de mecanismos econômicos e de “estruturas” que os reproduzam, para amarrar essa boa vontade a realizações concretas.      Não é o papel da Igreja inventar e implantar tais mecanismos, assim como Jesus não se transformou em fornecedor de pão e de bem estar. Mas a Igreja tem de mostrar o rosto de Deus, que é Pai de todos e deseja que nos tratemos como irmãos. E para isso ela não pode deixar de apontar quais são as responsabilidade concretas.

Dom Mauro Montagnoli
Bispo diocesano de Ilhéus  

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