O adeus de Larissa, que pretende ser mãe em breve, não foi
no lugar mais alto do pódio. A derrota para Lili e Rebecca nas semifinais doeu,
mas deixou a dupla alerta para não deixar o terceiro lugar escapar. E ele veio
em um jogo tenso. Com uma diagonal em cima da linha, a capixaba exibiu pela
última vez sua habilidade nas areias para confirmar mais um triunfo, o 1.016º
da parceria com Juliana, ao lado de quem faturou 109 torneios.
- Senti um turbilhão de coisas na cabeça e no coração. Senti
alegria pelo semestre que fizemos, tristeza porque vai acabar. Neste domingo,
realmente a ficha caiu e, mesmo se eu tivesse jogado a final, estaria dividia
com um sentimento bom e outro ruim. Sabia que seria duro, difícil. Depois de
dez anos, vai ser muito bom acordar sem despertador, mas é claro que vou sentir
saudades. Já falei para o Reis (Castro, treinador) que de vez em quando vou
bater uma bola, assistir aos jogos. Está no sangue, no coração. Não tem jeito
de mudar – disse Larissa.
A história de mais de
mil vitórias e cem títulos
Do início promissor ao status de uma das principais duplas
do vôlei de praia mundial, foi um pulo. Os recordes alcançados ano a ano
transformaram a parceria em um mito no Brasil e no mundo. Subir ao pódio foi
parte da rotina, assim como entrar em quadra para fazer o que sabem de melhor.
Somaram títulos, ganharam prêmios individuais e colecionaram grandes feitos.
Conquistaram quase tudo. Na galeria de troféus, faltou apenas a medalha
olímpica dourada, representada ali por uma de mesmo formato, mas com o brilho
mais discreto do bronze. Para as campeãs mundiais, um símbolo de dignidade e o
próprio reconhecimento de que todo o sacrifício valeu a pena.
Juliana e Larissa iniciaram a parceria em 2004. As duas se
conheceram três anos antes, num projeto da Confederação Brasileira de Vôlei
(CBV) para desenvolver novos talentos no vôlei de praia. Mas uma hérnia de
disco da capixaba e, depois, uma lesão no joelho esquerdo da santista, adiou a
estreia. Quando finalmente puderam atuar juntas, os títulos vieram com
velocidade impressionante.
Já em 2004, estrearam no Circuito Mundial com um bronze na
etapa brasileira, disputada em Fortaleza (veja no vídeo ao lado). Em julho do
mesmo ano, no Open de Mallorca, veio o primeiro dos 45 títulos na competição.
No ano seguinte, tomaram a coroa de Adriana Behar e Shelda com a conquista dos
Circuitos Mundial e Brasileiro. Com a impressionante marca de 82 vitórias,
estabeleceram o que até hoje é o recorde da dupla em uma única temporada.
Na lista de triunfos, o destaque foi a final da etapa de
Acapulco, no México, em 30 de outubro daquele ano. A primeira vitória sobre as
campeãs olímpicas Walsh e May veio em um jogo de 1h40m de duração, com o maior
número de pontos da história do vôlei de praia. O placar de 28/26, 40/42 e
15/13, que deu o título à dupla verde-amarela, ganhou um registro nas páginas
226 e 227 do Guinness Book, edição de 2011.
As duas seguiram em ascensão em 2006, vencendo nove das 12
etapas nacionais e ficando em segundo lugar nas outras três ocasiões. Em nova
temporada perfeita, em 2007, acrescentaram à galeria de medalhas o ouro no Pan
do Rio, conquistado sem perder sets.
Quando a consagração da parceria parecia certa nas
Olimpíadas de Pequim, a primeira grande frustração das comandadas de Reis
Castro veio em forma de lesão. No Grand Slam de Paris, em junho de 2008,
Juliana rompeu parcialmente o ligamento cruzado anterior do joelho direito.
Apesar do tratamento intensivo, a santista não conseguiu se recuperar a tempo e
foi vetada para disputar os Jogos, nos quais Larissa foi quinta colocada ao
lado de Ana Paula.
Juntas novamente no ano seguinte, retomaram a rotina de
comemorações no Brasil e no exterior. Bateram recorde de títulos de etapa em um
mesmo ano no Circuito Mundial em 2009 (oito) e
alcançaram o ápice em julho de 2011, com o ouro no Mundial de Roma, conquistado
de forma invicta e com vitória épica sobre Walsh e May. No Foro Itálico, as
brasileiras salvaram um match point e, com dois bloqueios seguidos de Juliana,
sagraram-se campeãs (assista no vídeo ao lado). A temporada perfeita terminaria
com o primeiro lugar nos Circuitos Brasileiro e Mundial, além de ouro no Pan de
Guadalajara.
Em 2012, demoraram a engrenar no Circuito Mundial, mas
chegaram às Olimpíadas em segundo no ranking da temporada e como uma das
favoritas ao ouro olímpico. Tudo correu muito bem até o primeiro set das
semifinais em Londres. Após vencerem a primeira parcial, as brasileiras cederam
a virada para as americanas April Ross e Jennifer Kessy e deram adeus ao sonho
dourado. Na disputa de terceiro lugar, em jogo igualmente dramático, foi a vez
de Ju e Larissa reagirem depois de estarem perdendo para conquistar a medalha
de bronze e subir ao pódio.
Após as Olimpíadas, contaram com a desistência das chinesas
Xue e Zhang Xi e confirmaram mais um título do Circuito Mundial, ultrapassando
a marca de Adriana Behar e Shelda. Logo depois, anunciaram o fim da parceria,
já que Larissa deixará o esporte para ser mãe. Contando os dias para a
despedida, expuseram mais uma vez o domínio nas areias nacionais, vencendo
cindo das seis etapas da temporada 2012/2013, somando apenas três derrotas em
30 partidas disputadas no Circuito Brasileiro.
Nesta segunda-feira, Larissa vai acordar pela primeira vez
em uma década sem ter a obrigação de treinar ou, ao menos, se preocupar em
manter a boa forma que o esporte em alto nível exige. Vai se dedicar a projetos
pessoas e pretende ser mãe em breve. Enquanto isso, Juliana seguirá a carreira
ao lado de Maria Elisa, buscando novos desafios e recordes. Pelo currículo
invejável e atuações recentes, ninguém duvida que isso seja possível.
Os recordes que
pertencem a Juliana e Larissa
Mais vitoriosas do Circuito Mundial: títulos de 2005, 2006,
2007, 2009, 2010, 2011 e 2012
Maior número de títulos de etapa do Circuito Mundial: 44
Maior número de títulos de etapa do Circuito Mundial em um
mesmo ano: 8, em 2009
Única dupla bicampeã pan-americana de vôlei de praia
Maior número de título de etapas em uma temporada do
Circuito Brasileiro: 11, em 2010
Maior número de títulos consecutivos no Circuito Brasileiro:
11, entre 2010 e 2011
Maior número de vitórias consecutivas no Circuito
Brasileiro: 60 jogos, entre 2010 e 2011
Fonte: SporTV

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