A advogada Carla Cepollina, de 47 anos, que está sendo
julgada pela morte do coronel Ubiratan Guimarães, em setembro de 2006,
finalizou seu depoimento, na noite desta terça-feira (6), criticando o trabalho
da polícia na fase das investigações, na qual, segundo ela, foi feito de tudo
para incriminá-la.
O segundo dia do júri no qual ela é ré foi encerrado pelo
juiz Bruno Rocnhetti de Castro às 22h20 desta terça. O julgamento está sendo
realizado no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. O
terceiro dia do júri está previsto para começar às 10h desta quarta-feira (7),
com a fase de debates entre defesa e acusação. Em seguida, o júri irá se reunir
para decidir se a ré é culpada ou inocente.
O juiz que preside o júri pediu à acusada que fizesse as
considerações finais dela, após ter respondido a uma série de questões
formuladas pelo assistente de defesa. Carla Cepollina, então, destacou a falha
da polícia em obter provas contra ela. "Eles não têm nada, além destes
laudos adulterados. Eu não tive direito a uma luta justa. Todo crime deixa um rastro,
e a acusação não tem nenhuma prova científica. Tudo o que eles têm é uma
história de quinta categoria", declarou, ao término de seu interrogatório.
Ao deixar o plenário, a advogada de defesa, Liliana
Prinzivalli, que abdicou de fazer perguntas à filha, reforçou a veracidade do
depoimento prestado pela ré. “Aquilo que está nos autos está nos autos. Tudo
aquilo que a Carla falou hoje ela falou simplesmente a verdade. Tudo que era em
defesa dela a polícia não fez. Como eles não têm nada, absolutamente nada,
nenhuma prova, as perguntas que eles fazem são facilmente derrubadas. Por
exemplo, eles acham uma grande coisa que a Carla ligou para mim, a mãe
dela", disse.
A advogada afirmou que não fez perguntas para não ser mal
interpretada pelos jurados. "Eu acho constrangedor como mãe fazer
perguntas para a filha. Por isso que não fiz perguntas. Eu assumi a defesa, mas
isso não quer dizer que sou obrigada a fazer perguntas para ela. A mãe fazer
perguntas para a filha diante dos jurados poderia parecer que a gente tinha
combinado (as respostas)”, declarou.
Vicente Cascione, assistente de acusação e advogado de
Ubiratan Guimarães, disse que as provas contra Carla Cepollina serão
apresentadas nesta quarta-feira, na fase de debates. "Nós temos provas
para exibir amanhã (quarta). Vão ser colocadas essas provas para todo mundo
ver. Não temos pressa, isso não é um espetáculo pirotécnico. Ela diz o que ela
quiser. A afirmação de que estamos sem provas é tão vazia que ela está aqui
sentada no banco dos réus, pronunciada, respondendo por um homicídio. Quem vai
decidir se temos provas ou não serão os jurados", afirmou.
Para o advogado, o depoimento prestado pela acusada nesta
terça-feira deixou uma impressão negativa nos jurados. "Foi um ato de
prepotência, de arrogância, visível para quem assistiu, característico da ré. É
sinal de uma pessoa que não aceita contrariedades. Ela se sentiu traída e não
aceitou. A reação de quem não aceita a contrariedade é imprevisível. Isso
impressionou muito mal a todos, inclusive os jurados", disse.
Bode expiatório
Ao responder as questões do juiz Bruno de Castro, por volta
das 17h, Carla Cepollina havia afirmado que os fatos apresentados pela acusação
são “absurdos”. Ela criticou o Ministério Público, afirmou que “precisavam
encontrar um bode expiatório” e disse também foi “torturada na polícia”,
“perseguida pela mídia” e que teve de ficar trancada em casa.
"Precisavam achar um bode expiatório e criaram um
quebra-cabeça no qual eu não me encaixo", disse durante o interrogatório.
Carla começou a depor por volta das 17h e por duas horas respondeu perguntas do
juiz Bruno Ronchetti de Castro. Às 19h, ela começou a ser interrogada pelo promotor
João Carlos Calsavara, e pediu para que ele a chamasse de “doutora”. Depois, se
disse arrependida do comentário.
Ao longo do seu discurso, a advogada narrou os diversos
fatos ocorridos na noite de 9 de setembro de 2006. Ela diz que saiu da casa de
Ubiratan naquela noite e seguiu para o seu apartamento, enquanto o coronel
permaneceu dormindo após ingerir bebida alcoólica. Cepollina também rebateu as
afirmações presentes na acusação de que seu relacionamento com Ubiratan
tratava-se de um namoro que já havia terminado.
Segundo ela, o coronel convidou-a para morar com ele duas
vezes, o que não se concretizou, segundo Carla, por ela gostar de ser uma
pessoa independente, classificando-se como “territorial”. O fim do namoro só
ocorreu com a morte do coronel, na versão da ré.
Início
Carla relatou que conheceu Ubiratan em 2000 numa festividade
do Regimento de Cavalaria da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Um primo
dela, que é tenente, a apresentou a Ubiratan. Eles se encontraram depois em
2002 e em 2004, quando ela o procurou na Assembleia Legislativa de São Paulo
(Ubiratan era deputado estadual pelo PTB) para falar sobre o alistamento de um
sobrinho. A partir de então, começaram a namorar. “Ubiratan era muito
inteligente, engraçado, espirituoso, extremamente sedutor. Eu gostei muito do
Ubiratan."
Ela relata ainda que em 2006 vivia em ano difícil, já que
seu pai teve um diagnóstico de câncer e Ubiratan foi internado e chegou a
realizar um cateterismo. Ela afirma que não foi morar com o coronel, mas
administrava a casa dele e comprava seus remédios. Ajudava também na campanha
de Ubiratan, já que era ano eleitoral. Apesar dos problemas enfrentados,
garantiu que não ficou psicologicamente abalada. “Eu fui treinada para
enfrentar essas coisas. Meus avós foram combatentes de guerra.”
A ré contou que no dia 9 de setembro foi ao comitê eleitoral
e depois à hípica, onde encontrou Ubiratan. Falaram com pessoas sobre a
campanha. Mais tarde, foram para o apartamento do coronel, onde ela fez duas
caipirinhas, tomadas pelo deputado. Ela admitiu que passou para Ubiratan a
ligação da delegada Renata Madi, que teria um caso com o coronel à época. Em
seguida, assistiu à televisão e decidiu ir embora, já que o coronel dormiu.
Passou em uma locadora e alugou os filmes “Armadilhas do Amor” e “América”.
Carla disse que soube pelos jornais que Ubiratan teria um
caso com a delegada. Segundo ela, Ubiratan falava muito sobre morte e decidiu
comprar um carro blindado. Naquele ano, ocorriam ataques de uma facção
criminosa na cidade. Ela destacou, ainda, a história de Ubiratan como policial
e disse que ele era extremamente voluntarioso. "Achar que eu envolveria
ele maliciosamente é risível", afirmou.
Carla contou ainda que atualmente vive de realizar trabalhos
de tradução.
Segundo dia do júri
Após um atraso de cerca de duas horas em razão da falta de
energia no entorno do fórum, o segundo dia do julgamento começou com a leitura
de depoimentos de testemunhas. Entre os relatos lidos está o de Fabrício
Rejtman Guimarães, um dos filhos do coronel assassinado em 2006. Ele afirmou
que seu pai “tinha pena” de Cepollina, com quem não queria ter um
relacionamento sério.
Segundo Fabrício, Cepollina queria que a relação fosse
oficializada. O filho contou que Ubiratan contava que a mulher “chorava o tempo
todo” pedindo para reatar o namoro. Em certa ocasião, o coronel pediu que o
filho convidasse Cepollina para um almoço no sítio da família.
Ubiratan era viúvo havia seis anos e, nesse período, se
relacionou com três mulheres segundo o filho. Em setembro daquele ano, ele
manteria um caso com a delegada da Polícia Federal Renata Madi, que residia no
Pará.
O depoimento da delegada foi outro dos textos lidos. Ela
afirmou conhecer Ubiratan de um clube de tiro e admitiu que era apaixonada pelo
coronel. Segundo o depoimento da delegada, os dois tiveram um relacionamento
amoroso superficial. Disse ainda que Ubiratan lhe deu apoio para que ela
prestasse concurso público e que, em 2006, quando ela teve de passar um período
em Brasília, Ubiratan a visitou.
Também foi lido o depoimento de Ana Cristina de Jesus
Bonfim, que era empregada da vítima. Outro texto reproduzido aos jurados foram
as declarações de Desiree Teixeira Fresche, amiga da ré que foi arrolada como
testemunha de defesa. Ela relatou que Ubiratan e Cepollina viviam uma relação
próxima e que se ligavam pela manhã todos os dias, até para tirar dúvidas de
“palavras-cruzadas”. Afirmou ainda que chegou a visitar o apartamento de
Ubiratan, nos Jardins, e que conseguiu entrar sem precisar ser identificada por
interfone.
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