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Em entrevista ao Fantástico, Carla Cepollina pede que a 'deixem em paz'

A advogada Carla Cepollina, absolvida na última quarta-feira (7) da acusação de ter matado o ex-namorado, o coronel Ubiratan Guimarães, pediu que a “deixem em paz”, em entrevista exclusiva exibida pelo Fantástico neste domingo (11).
“Foram seis anos de inferno, então agora, por favor, me deixa em paz, né? Eu entrei no tribunal dizendo ‘não fui eu’. São seis anos que eu falei ‘não fui eu, não tem prova contra mim’”, disse Carla.
Ubiratan Guimarães foi morto com um tiro no abdômen em setembro de 2006. O coronel que comandou a invasão do Carandiru, em 1992, em um massacre que matou 111 presos, também era deputado estadual em São Paulo. Ele e Carla viviam um romance de dois anos quando o crime aconteceu.
Carla Cepollina foi absolvida por júri popular após três dias de julgamento. Antes disso, o processo já tinha sido arquivado por falta de provas na primeira instância. No entanto, a acusação ainda questiona a decisão, e o Ministério Público recorreu da sentença.
Desabafo
Na entrevista ao Fantástico, a advogada fez um desabafo sobre o que sentiu como principal suspeita do crime. “Eu virei atração nos lugares que eu ia. A pessoa olhava o cartão e dizia ‘Ah, você que é a Carla Cepollina?’. Então eu tinha que catar meus cacos e reconstruir minha vida”, afirmou.
“Tem feridas que não vão sarar nunca. Eu fiquei uma pessoa, sem dúvida nenhuma, mutilada. Fiquei uma pessoa defensiva, magoada, ferida. Não tem comparação. A maneira como eu encarava a vida antes e agora é completamente diferente. Sabe quando os combatentes de guerra voltam e encaram a vida diferente? Tive que fazer tratamento para estresse pós-traumático, para depressão”, contou a advogada.
Carla relatou ainda a sensação de alívio que teve quando a decisão do júri foi lida, e que não pensou no coronel Ubiratan naquele momento. “Quando saiu o veredito, eu pensei no meu pai e nessa coisa extremamente liberatória de falar ‘Limpei meu nome!’”, disse.
“Eu acho que as pessoas têm que ter um pouco de decência, hombridade. O júri é o máximo, o topo da cadeia da justiça. Foram sete pessoas que perderam três dias da vida deles, ficaram enclausurados, ouviram tudo, examinaram, ficaram lá a serviço da sociedade e para julgar um par deles, um semelhante deles. Eu fui lá, poderia ter saído condenada de 12 a 30 anos, estava lá. Fiquei lá. Saiu 7 a 0. Eles entenderam perfeitamente do que se tratava, não tinha nada a ver com o Ubiratan. O negócio foi: foi a Carla? Não foi a Carla. Não foi a Carla. Então, assim, Brasil, mundo, entendam: não foi a Carla. É a segunda vez que uma instância da justiça diz ‘não foi a Carla’. Então, por favor, me deixem em paz”, desabafou.
Continuação
A acusação não concorda com a decisão do júri. O Ministério Público decidiu recorrer e pedir a anulação do julgamento. “O jurado não conseguiu ver porque ele estava descompromissado. Ele estava ali de uma forma não interessada. Quem foi julgado foi o coronel Ubiratan, não foi a Carla Cepollina. Foi o que permeou o processo, o que transpareceu durante toda a acusação e durante toda a fala da defesa, quando o coronel foi atacado, seus familiares foram atacados, onde a prova da acusação foi desconsiderada. É muito mais fácil você absolver uma moça bem nascida, educada, estudada, do que decidir pela condenação dela em relação a uma pessoa tão estigmatizada. Os filhos do coronel me ligaram e me pediram que eu procedesse como quisesse, mas já estava convencido, como estou convencido há cinco anos: foi Carla Cepollina que matou o coronel Ubiratan Guimarães”, afirmou ao Fantástico o promotor João Carlos Calsavara.
“Eu acho que as pessoas deveriam ter um pouco mais de decência e hombridade para encarar a derrota”, rebateu Carla.
A dúvida de resposta mais difícil para esclarecer o crime é saber a que horas o coronel foi assassinado. Para a acusação, Carla matou Ubiratan por ciúme, depois de uma briga de casal. Ela teria usado a própria arma do coronel, um revólver calibre 38, que nunca foi encontrado. O disparo teria acontecido entre 19h08 e 19h26 da noite de 9 de setembro de 2006, um sábado.
A defesa de Carla afirma que a advogada deixou o apartamento de Ubiratan na noite de sábado e que o coronel estava vivo e dormindo. O advogado de defesa se baseou no laudo do IML, que indica que o coronel foi morto entre 18h e 20h antes da análise do corpo, que foi feita na segunda-feira. Ou seja, para a defesa, isso mostra que ele morreu quando Carla já não estava mais lá.
A defesa afirma que o coronel estava vivo no domingo. Às 8h, Carla enviou uma mensagem para o celular dele, mas a operadora informou que o SMS só entrou na caixa postal três horas depois, às 11h. Para a defesa, isso mostra que o telefone celular do coronel foi ligado nesse horário, por Ubiratan ou outra pessoa.
“Então ele ligou o celular às 11h e pouco da manhã ou alguém que estava com ele ligou. Agora, a hora da morte eu não sei. Só sei que no domingo ele estava vivo”, disse Liliana Prinzivalli, mãe de Carla.
“Diz a lei que só é possível haver novo julgamento perante o tribunal do júri se a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos. Ou seja, as provas produzidas são todas no sentido de que o réu era culpado e o tribunal do júri absolve”, explicou ao Fantástico o professor de Processo Criminal da PUC-Rio, Paulo Freitas Ribeiro.
Fonte: G1

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