No Brasil, há vários anos, a
Igreja Católica dedica o mês de setembro para a reflexão e o aprofundamento do
conhecimento da Bíblia. É conhecido como o Mês da Bíblia.
Muitos católicos pensam que basta
participar da celebração da missa. A Igreja ensina que a liturgia “não esgota
toda a ação da Igreja” (SC 9). Para se celebrar eficazmente a Liturgia, o
cristão católico precisa ser primeiro evangelizado, precisa crer, precisa mudar
de vida, pois “como invocação Aquele em quem não creram? E como crerão sem ter
ouvido falar d´Ele? E como ouvirão, se ninguém lhes anunciar? E como se
anunciará se ninguém for enviado?… (Rm 10,14-15). Importa que nos empenhemos,
pessoal e comunitariamente, para um encontro com o Cristo na Palavra. Reunidos
em Aparecida os nossos bispos afirmam: “A Palavra de Deus não são meras
palavras. A Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser
pessoa, busca estabelecer uma relação…” (Discípulos e Servidores da Palavra
de Deus na Missão da Igreja, Documentos da CNBB, n. 97, introdução).
Devemos nos perguntar: na minha
vida pessoal e na minha comunidade o que podemos fomentar em termos de estudo e
celebração em torno da Palavra de Deus.
Muitos católicos ainda têm grande
dificuldade de participar da celebração da Palavra de Deus dirigida por leigos
e leigas, ministros extraordinários da Palavra. Por que essa resistência? Há
cinquenta anos da realização do Concilio Vaticano II muitos só querem a
celebração da missa feita pelo padre. Pensam que a celebração apenas da Palavra
não vale tanto quanto a missa.
A Igreja sempre teve consciência
de que na celebração litúrgica a Palavra de Deus é ação do Espírito Santo que
opera, age no coração dos fiéis. “Na realidade, graças ao Paráclito é que a
Palavra de Deus se torna fundamento da ação litúrgica, norma e sustentáculo da
vida inteira” (Verbum Domini, n. 52).
Além do mais, “os Padres sinodais
exortaram todos os Pastores a difundir, nas comunidades a eles confiadas, os
momentos de celebração da Palavra: são ocasiões privilegiadas de
encontro com o Senhor. Por isso, tal prática não deve deixar de trazer grande
proveito aos fiéis, e deve considerar-se um elemento importante da pastoral
litúrgica […] a celebração da Palavra de Deus é vivamente recomendada nas
comunidades onde não é possível, por causa da escassez de sacerdotes, celebrar
o Sacrificio Eucarístico nos dias festivos de preceito […]” (Verbum Domini, n.
65).
A Palavra de Deus escrita na Bíblia
nos aponta o caminho certo do cumprimento da vontade de Deus. Na cura do homem
surdo e que falava com dificuldade (cf. Mc 7,31-37), Jesus se afastou com o
homem da multidão e, num gesto sensível, fez o milagre da cura. Interessante:
Jesus se afasta dos holofotes e vai mais além: recomenda com insistência que
não contassem nada a ninguém. Jesus não faz estardalhaço dos seus milagres e
nem se aproveita para se tornar rei.
Também ouvimos na Bíblia que “não
escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino
que ele prometeu aos que o amam?” É este questionamento que São Tiago nos faz
na sua carta, capitulo 2, versículos 1 a 5. Não é exatamente isso que Jesus
expressa no seu atendimento atencioso aos doentes e pobres? É propriamente a fé
em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado que não admite acepção de pessoas.
As injustiças e desigualdades que
verificamos constantemente em nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são até
banalizadas, jamais poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs.
Estas foram constituídas justamente para serem sinal de esperança para os
empobrecidos e marginalizados. Por isso, não tem cabimento os preconceitos
discriminatórios, praticados dentro dessas comunidades cristãs. Eles constituem
pecados graves que devem ser extirpados.
—
Dom Mauro Montagnoli
Bispo diocesano de Ilhéus
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