O CHICOTE DE JESUS
Os comerciantes são expulsos do templo a chicotadas (Cf. João 2, 13-25). A expulsão dos vendilhões do templo acontece em pleno tempo da Páscoa dos judeus, quando Jerusalém está apinhada de peregrinos vindos de todas as partes do mundo para celebrar, oferecer sacrifícios e cumprir suas promessas. São realmente dias de festa, em todos os sentidos. Os comerciantes sabem que a festa da Páscoa é uma privilegiada ocasião de fazer muitos e bons negócios. O mesmo espetáculo presenciamos nos Santuários como o de Bom Jesus da Lapa.
O evangelho relata a presença e a indignação de Jesus diante do comércio. Jesus vê tudo o que acontece. Não diz uma só palavra. Faz um chicote com as cordas e expulsa os vendilhões do Templo. Derruba as mesas, as cadeiras, o dinheiro, as gaiolas com as pombas. A reação de Jesus é surpreendente. Ninguém consegue segurá-lo, nem os guardas do Templo.
Ele diz: “Tirai daqui tudo isso e não façais da casa de meu Pai uma casa de negócios” (Jo 2,16).
Para muitos a religião se torna um negócio lucrativo. Jesus fica indignado com isso. Substitui-se Deus pelo negócio. Cultua-se o deus negócio. A pessoa humana se torna um negócio. Profana-se o ser humano, imagem e semelhança de Deus, quando a pessoa é despojada dos seus direitos e é transformada num objeto de lucro ou de aproveitamento.
A Campanha da Fraternidade 2012 denuncia a saúde pública no país porque se tornou um verdadeiro negócio lucrativo para muita gente. O mau uso das verbas destinadas à saúde pública é causa do péssimo atendimento médico e hospitalar que recebe o povo pobre. “Ah! Quanta espera, desde as frias madrugadas, pelo remédio para aliviar a dor! ... Ah! Quanta gente que, ao chegar aos hospitais, fica a sofrer sem leito e sem medicamentos!”.
Assim como Jesus, nós também ficamos indignados, por este tratamento desumano que é dado ao povo pobre e sofredor.
Em Ilhéus vemos a saúde pública sucateada causando tanto sofrimento aos templos vivos de Deus, que são as pessoas, em especial, os pobres. Jesus se indigna contra aqueles que se aproveitam das verbas destinadas à saúde e as desviam para outros setores ou fazem negociatas que favorecem alguns. Jesus usa o chicote contra esses vendilhões dos templos humanos e derruba suas bancas, cadeiras e dinheiro.
Jesus disse também: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei” (Jo 2,19). Jesus inaugura um novo templo e tem início um novo culto.
Tendo ressuscitado o Filho, o Pai coloca a pedra fundamental do novo templo. Sobre essa pedra coloca outras pedras vivas que são os discípulos missionários. Todos juntos formam o corpo de Cristo, o novo templo onde Deus habita. Somos templo do Espírito Santo. Junto com Cristo formamos o novo santuário no qual se elevam a Deus, em todos os momentos, os perfumes, os louvores, os cantos, os incensos e os sacrifícios que lhe são agradáveis.
“Ah! Não é justo, meu Senhor, ver o teu povo em sofrimento e privação quanto há riqueza!” É preciso mudar essa situação. “Senhor, sê nossa força, nossa luz e salvação” (Sl 27,1). Deus espera que tomemos consciência dessa realidade e nos organizemos para afastar a escuridão que envolve a saúde pública no município de Ilhéus. Os nossos gestores são os primeiros responsáveis neste combate. Mas, a sociedade deve se organizar para urgir deles o cumprimento do seu dever na aplicação correta dos recursos destinados à saúde. É preciso criar condições para se oferecer uma saúde de qualidade para o povo pobre. Lembremo-nos de que o pobre é o privilegiado de Deus. “Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3).
Rezamos a Deus: “Tu que vieste pra que todos tenham vida (Jo 10,10), cura teu povo dessa dor em que se encerra: que a fé nos salve e nos dê força nessa lida (Mt 5,34) e que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Ecl 18,8)”.
Dom Mauro Montagnoli
Bispo Diocesano de Ilhéus
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