Uma cantora portuguesa foi indiciada pela Polícia Civil de
Mato Grosso por suspeita de tentar acobertar o aborto da filha, de 14
anos, cometido em Cuiabá, no dia 4 deste
mês. Maria Adelaide Mengas Matafome, de 54 anos, deve prestar depoimento em
Portugal e o caso será acompanhado pela Interpol.
A garota, que estava grávida de três meses, encontra-se em
uma casa de internação para menores. Além da mãe portuguesa, a polícia indiciou
o namorado brasileiro, de 21 anos, e a mãe dele, por também tentarem esconder o
crime. A adolescente deverá cumprir medida socioeducativo pelo aborto
provocado.
O caso foi descoberto na madrugada do dia 4 de janeiro
quando a garota deu entrada no Hospital Universitário Júlio Müller. Ela
apresentava um quadro grave de hemorragia provocado pela ingestão de quatro
comprimidos contendo substância altamente abortiva. Três horas depois de tomar
o medicamento, ela entrou em trabalho de parto que só foi concluído quando o
feto foi expelido no vaso sanitário da unidade hospitalar.
As investigações apontaram que a adolescente comprou os
remédios proibidos pela legislação brasileira por meio de um site holandês. Um
médico austríaco emitiu uma receita e os 10 comprimidos remetidos pela Índia
foram encaminhados à casa do namorado da adolescente, em Cuiabá, ao custo de R$
88.
De acordo com o delegado que investiga o caso, Paulo Alberto
Araújo, da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), a cantora foi
indiciada indiretamente por tentar forjar uma falsa história em relação à
gravidez da filha. "A mãe da adolescente em Portugal foi contatada por
e-mail e essa ligou ainda por volta de 5h [ do dia 4] no telefone fixo da casa
do rapaz falando com cada um em separado para não dizer quem era o pai e que a
adolescente já veio grávida de Portugal para o Brasil”, afirmou o delegado.
A garota de 14 anos conheceu o rapaz brasileiro na região de
Vila Caiscais, em Portugal. O casal passou a morar na casa da mãe da
adolescente desde fevereiro de 2012 e, no dia 28 de setembro do ano passado,
ambos foram a Cuiabá para a menina conhecer a família dele. Na capital, a
menina descobriu que estava grávida ao fazer dois testes de farmácia.
De acordo com a gerente da Casa de Retaguarda Paulo Prado,
Flávia Alessandra Guedes Silva Saldanha, a adolescente estava com passagem de
retorno marcada para o mês de novembro, porém, “não retornou porque passou mal
ao descobrir estar com dengue”.
Em depoimento à polícia, a menina disse que tomou a decisão
de abortar e, mesmo o namorado tendo se mostrado contrário à decisão dela, foi
auxiliada por ele a fazer pesquisas na internet para localizar abortivos,
quando resolveram adquirir o medicamento de uma organização internacional que
auxilia mulheres em dificuldade para manter uma gravidez. O delegado que
investiga o caso também solicitou à Justiça a proibição de veiculação do site
por meio do qual a portuguesa adquiriu os medicamentos.
Internação
Em entrevista ao G1, a gerente da casa de internação
informou que os primeiros dias da adolescente portuguesa no local não foram
fáceis. Recolhida e indiferente, a menina “chorava o tempo todo”.
O alívio só chegou quando a adolescente confessou ter
praticado o aborto em depoimento prestado à polícia. “Quando ela contou a
verdade isso deu mais tranquilidade emocional, passou a se alimentar melhor e
também a cantar. Ela disse quer ser cantora, como a mãe”, enfatizou.
Saldanha informou ainda que a mãe da menina mantém contato
diário com ela por telefone e, inclusive, contratou uma advogada em Cuiabá para
atuar em defesa dela e da filha. A escolhida foi a advogada Benedita Rosarinha
Bastos, que também é presidente da Comissão da Infância e Juventude da Ordem
dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT). Ela não respondeu às
ligações até o fechamento da reportagem do G1.
O G1 apurou que Bastos compareceu à primeira audiência que
responsabiliza a artista no caso realizada na semana passada na Vara de
Infância e Juventude de Cuiabá. A Justiça também deverá decidir o futuro da
portuguesa no Brasil.
Fonte: G1
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